Por: Andreza Sichieri
O ingresso da criança na escola marca a entrada em um meio social mais amplo. Pela primeira vez, ela se afastará do seio familiar por algumas horas para, aos poucos, construir novas relações.
Esse momento deve ser preparado pela família, mas sem longas explicações, que podem despertar desconfiança e insegurança. A criança percebe a decisão muito mais pelos gestos e atitudes dos adultos do que pelas palavras. Assim, a segurança dos adutos se transforma em segurança para a criança.
A separação, naturalmente, é um processo doloroso tanto para a família quanto para a criança. Na escola, ela vivenciará o distanciamento dos familiares e a não exclusividade: precisará compartilhar a atenção com outras crianças. Por outro lado, será acolhida com carinho, respeito e encontrará espaço para brincar, se alimentar e se desenvolver em um ambiente seguro. Aqui a confiança começa a nascer. Vale lembrar que o vínculo com a escola de fato só será construído na ausência dos familiares.
É importante que, dentro do possível, o ingresso na escola seja o único “fato novo” na vida da criança. Mudança de casa, retirada de chupeta ou fraldas, chegada de um irmão, perda de um ente querido ou animal de estimação, alterações na saúde ou no quarto da criança — tudo isso deve ser evitado nesse período, pois pode intensificar a dificuldade da adaptação.
O choro, nesse momento, é esperado e absolutamente normal. Geralmente expressa a preferência de permanecer com a família em casa ou mesmo na escola. Sono, fome, cansaço também são motivos para que a criança chore na hora da separação e não queira ficar na escola. É muito importante que a criança tenha qualidade de sono de alimentação diariamente e que vá para a escola com essas necessidades supridas.
Podem surgir regressões de comportamento ou até sintomas psicossomáticos, assim como sentimentos ambivalentes: desejo de autonomia e, ao mesmo tempo, necessidade de proteção. Isso faz parte do desenvolvimento e deve ser acolhido com paciência e firmeza.
Na chegada, cabe ao adulto entregar a criança ao educador(a) — colocando-a no chão ou nos braços da professora — sempre incentivando-a a permanecer na escola. Quanto mais rápido e decidido for esse gesto, mais segurança a criança sentirá.
É essencial que a despedida não seja feita às escondidas. A família deve se despedir de forma breve, firme e carinhosa, sempre avisando que retornará logo. O choro pode persistir no início, mas, ao perceber que todos os dias a mesma rotina se repete e que a família volta no mesmo horário, a criança gradualmente se tranquiliza.
A ausência de choro, por outro lado, não significa ausência de sentimentos. Toda criança vivencia a separação, cada uma a seu modo.
A sala de atividades é um espaço que deve ser respeitado. A presença das famílias durante a semana de adaptação deve ser sempre combinada com a professora, de acordo com as necessidades do grupo.
Em casa, é recomendável evitar interrogatórios sobre o dia da criança. Ela deve se sentir livre para compartilhar suas experiências de forma espontânea, no tempo em que desejar.
Dessa forma, dia após dia, a confiança se constrói e se fortalece.
“Confiança é uma das palavras de ouro que, no futuro, deverão dominar a vida social.
Amor pelo que se tem a fazer é a palavra de ouro.
E, no futuro, serão socialmente benéficas as ações realizadas por amor aos homens em geral.”
— Rudolf Steiner